10 março 2008

Conferência reafirma luta contra a transposição do rio São Francisco

Decepção e indignação com o governo marcaram o encontro, e participantes
aprovam Dia Nacional de Luta em Defesa do São Francisco

Zé Andrade, de Pirapora (MG)

• A Conferência dos Povos do Semi-Árido e do São Francisco, realizada em
Sobradinho (BA), entre 25 e 27 de fevereiro, foi a resposta dos movimentos
sociais contrários à transposição aos ataques desferidos por Lula, que em
2007 atacou o jejum de Dom Luiz Cappio e fez uma ofensiva para acelerar a
execução das obras.

A conferência reuniu 213 participantes: de 93 movimentos populares e
organizações sociais. Os números que superaram todas as expectativas dos
organizadores, demonstrando que há muita disposição de luta nas bases dos
movimentos populares para derrotar a transposição e pautar um projeto
verdadeiro de revitalização, sob controle dos trabalhadores ribeirinhos.

Dois sentimentos destacaram-se nos debates da conferência: a decepção e a
indignação dos lutadores com o governo Lula. Porém a expressão desses
sentimentos, de modo algum, se concretizou no conformismo e na covardia.
Pelo contrário, foi majoritária a opinião de que é necessário lutar contra o
governo para derrotar o projeto da transposição.

*Conjuntura*
A relação dos movimentos sociais com o governo federal e a cooptação de
lideranças foram temas muito presentes durante toda a conferência e foram
apontados por muitas pessoas como uma das principais causas das dificuldades
enfrentadas pelo movimento para derrotar o projeto da transposição.

A visão do governo Lula como um gerente do capitalismo brasileiro a favor
dos interesses de banqueiros, empresários e latifundiários esteve muito
presente nas intervenções, demonstrando que a experiência com o governo
durante a greve de fome de dom Luiz Cappio, no ano passado, evidenciou o
caráter traidor desse governo.

A dúvida sobre o posicionamento do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra
(MST) diante da mais nova tática do governo federal para enfraquecer o
movimento, apresentada pelo deputado federal Ciro Gomes (PSB) na audiência
pública realizada no Senado, foi destaque também das discussões em plenário.
Depois de ter finalmente reconhecido que o projeto possui um caráter
econômico, e não para beneficiar a criação de animais e levar água às
pessoas, Ciro Gomes anunciou uma "reforma agrária" mentirosa ao longo dos
700 quilômetros de canais.

O Ibama, no estudo de impacto ambiental da obra, desmente a viabilidade
dessa proposta, por afirmar que os solos por onde os canais passarão são de
formação rochosa e portanto, inapropriados para a produção agrícola. Além
disso, o deputado afirmou também que os assentamentos não teriam acesso às
águas dos canais, mostrando que a mentira tem "perna curta".

O governo federal prepara uma poderosa campanha publicitária a favor da
transposição para disputar a consciência dos movimentos populares e do povo
pobre dos estados por onde supostamente passarão os canais do projeto. Além
disso, Lula pessoalmente prepara uma caravana nos estados receptores da
bacia do São Francisco.

*Dia nacional de luta*
Diante desse quadro, a importância da conferência de Sobradinho está em
apontar o caminho da luta e do enfrentamento ao governo Lula e a seus
colaboradores para derrotar a transposição do São Francisco.

Para desmentir as propostas do governo federal, foi aprovado um calendário
de lutas para 2008 que inicia já no próximo mês, com um Dia Nacional de Luta
em Defesa do São Francisco contra a Transposição. No dia 1º de abril,
conhecido popularmente como o "dia da mentira", o movimento realizará o "Dia
da Mentira do Governo e da Verdade do Movimento", com uma série de ações em
várias localidades do Brasil para protestar contra a Transposição.

Além disso, foi destacada a necessidade de aumentar a unidade em torno dessa
luta, buscando ampliar o raio de ação das atividades do movimento. Entre
essas, aprofundar o trabalho de base entre os trabalhadores da cidade e do
campo, com a realização de uma intensa contra propaganda e uma forte
campanha de esclarecimento sobre o projeto.

Entre as inúmeras propostas de ações, merece destaque a indicação de
atividades nacionais em Brasília como forma de pressionar o governo a recuar
em sua decisão de levar adiante esse projeto.

*Ampliar a unidade contra a transposição*
A Conferência dos Povos do Semi-Árido e do São Francisco mostrou que é
possível vencer essa batalha. Os lutadores presentes na conferência de
Sobradinho saíram com as energias militantes renovadas para enfrentar os
poderosos inimigos do Velho Chico.

Mas, para isso acontecer, é necessário retornar para suas cidades com o
compromisso de desenvolver um trabalho de base que dispute a consciência dos
trabalhadores e ribeirinhos. Ainda mais quando o governo prepara sua
propaganda enganosa.

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