06 março 2008

Após privatização de distribuidora, São Paulo sofre apagão

Após privatização de distribuidora, São Paulo sofre apagão

Sindicalistas denunciam que cerca de 2 mil trabalhadores foram demitidos após desestatização; manutenções preventivas teriam cessado sob a nova gestão

06/03/2008


Renato Godoy de Toledo

A cidade de São Paulo teve ontem (04) uma manhã que lembrou o período dos anos 2001-02, quando o país vivia um racionamento de energia e havia a constante ameaça de um apagão elétrico. Uma explosão na subestação Bandeirante da Companhia Transmissora de Energia Elétrica Paulista – Transmissão Paulista (CTEEP) , na zona sul da capital paulista, causou o desligamento de um disjuntor e deixou quase 3 milhões de pessoas sem luz das 8h54 à 9h39. Como reflexo da paralisação de estações do Metrô e do desligamento de semáforos, a cidade teve o pior trânsito na parte da manhã do ano.
A CTEEP era uma companhia estatal até o ano passado, quando foi leiloada pelo governo paulista, comandado por José Serra (PSDB) e comprada pelo grupo colombiano ISA – empresa que atua na área de energia e telecomunicações na América Latina.
O presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, Antonio Carlos dos Reis, o Salim, afirma que um conjunto de fatores ocasionou o apagão de ontem. "Estamos tendo um crescimento do PIB e a demanda por energia está aumentando, não há investimento em infra-estrutura para suportar isso. A empresa (CTEEP) privatizada reduziu muito o número de funcionários, de cerca de 3200 para os 1200 de hoje. Nas subestações não há quase ninguém trabalhando", analisa Salim.
Para Wilson Maques, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica (Sinergia), que representa os trabalhadores da área no interior de São Paulo, a privatização da companhia é responsável por incidentes como o de ontem.
"As condições de trabalho na subestação Bandeirante são muito ruins. Há muito poucos funcionários e eles trabalham em jornada dupla, sem folga", denuncia Marques.
O sindicalista acredita que a população deve se preparar para novos incidentes como o da subestação Bandeirante. "Não há mais manutenção preventiva. Se a pane fosse numa subestação maior, que seja interligadora, como a de Bauru ou Santa Bárbara do Oeste (ambas cidades do interior paulista), poderíamos ter um apagão de  proporção maior".
Salim também se queixa da falta de manutenção preventiva. "Só temos pessoas operando as subestações, não se faz mais a manutenção preventiva, apenas a corretiva, após acontecimentos como o de ontem. Depois foram ver que um outro disjuntor já estava desgastado, pode ser por isso que ocorreu o apagão. Se tivesse manutenção preventiva poderia ter evitado".

Cesp
O sindicalistas também demonstram preocupação com a privatização da Companhia de Energia do Estado de São Paulo (Cesp) que administra três das maiores usinas do Brasil, a de Ilha Solteira, Jupiá e Sérgio Motta, todas no rio Paraná. O leilão da companhia está marcado para o dia 26 de março.
"Além de o Estado perder uma indutora do desenvolvimento, deve ocorrer um aumento no preço das tarifas. A Cesp hoje está amortizada e depende das chuvas. A tendência é que a empresa privatizada aumente o preço das tarifas", prevê Marques.
Ambos os sindicatos assinaram um acordo com a Cesp que garante aos trabalhadores três anos de estabilidades após a privatização.
"Os trabalhadores têm essa garantia, mas a empresa deve demitir muitos trabalhadores antes do prazo e pagar uma multa, para reduzir o quadro de funcionários. Aí poderemos ter problemas também na geração de energia", analisa Salim.
Os sindicatos têm uma posição contrária à privatização da Cesp. "Somos contra a privatização de todo o setor elétrico, pois ele é estratégico para o país. As empresas privatizadas visam sobretudo ao lucro", posiciona-se Salim. O sindicalista também rebate as afirmações de que a gestão privada dá mais eficiência à empresa. "Quando a Eletropaulo era uma empresa estatal, ganhava prêmios de empresa com melhor serviço. Hoje, privatizada, fica em décimo lugar no ranking, porque tem apenas 2 mil funcionários".


Setor de Comunicação
Movimento dos Atingidos por Barragens
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