- aos trabalhadores, aos povos irmãos,
- às organizações operárias, populares e democráticas do Caribe e do continente,
Após a passagem de quatro furacões no Haiti,
SIM à ajuda e à solidariedade internacional,
NÃO à ocupação militar do Haiti e à agressão à nossa soberania
A todas e todos, companheiros, irmãos e irmãs do continente e de outros países,
Como vocês sabem, nosso país acabou de sofrer, em menos de duas semanas, a passagem dos furacões Fray, Gustav, Hanna e Ike. Todos os Estados de nosso país foram gravemente atingidos, alguns completamente devastados, causando oficialmente mais de 600 mortos e 800 mil sinistrados.
Esta situação é agravada pelo fato de que os poucos serviços públicos que se mantêm e não foram privatizados ou liquidados pelos planos de ajuste estrutural, estão agora sobrecarregados e de fato não conseguem ajudar a grande maioria da população.
Nosso povo está, então, confrontado a esta terrível situação na qual a cada dia trava-se uma luta pela sobrevivência, para obter água potável, víveres e socorro, que só chegam a conta-gotas, apesar das declarações dos chefes de Estado e das organizações internacionais. A ONU anunciou há três semanas, que uma ajuda de 198 milhões de dólares seria oferecida para o Haiti, e a instituição lamenta que, apesar dos compromissos de ajuda assumidos pelos governos, sòmente... 2% desta soma efetivamente chegaram ao país!
Quanto ao sr. Préval, presidente do Haiti, que desde o início de seu mandato continuou a política de privatização das empresas e dos serviços públicos, ele demonstra hoje, nesta situação, uma grande incapacidade e uma real paralisia para tomar as medidas de urgência em relação à população exigidas pela situação dramática que atravessa nosso país. Saibam que nesta situação na qual falta de tudo, na qual a população vive em condições de extrema dificuldade, Préval continua a pagar as prestações da dívida externa do Haiti aos bancos internacionais: 1 milhão de dólares que lhes são entregues a cada semana, considerando- se que 80% desta "dívida" foi contratada sob os regimes dos ditadores Duvalier pai e filho, Papa Doc e Baby Doc! Um milhão de dólares por semana que permitiriam comprar e distribuir toneladas de arroz, de água, de remédios etc...
Não! Esta dívida não é do povo haitiano! Exigimos que não saia mais nenhum dólar de nosso país para os cofres dos bancos e das instituições financeiras internacionais. O dinheiro dos haitianos deve permanecer com o povo haitiano, que precisa dele mais do que nunca. Nós, organizações haitianas, nos dirigimos ao governo e lhe pedimos a anulação pura e simples desta dívida de 1,3 bilhão de dólares.
O governo, no seu imobilismo e incúria, esconde-se atrás da presença de organizações humanitárias e, sobretudo, dos militares da MINUSTAH, encarregando- os de encaminhar os víveres e o socorro. Lembremos que foram George Bush e o governo estadunidense que decidiram e organizaram, há 4 anos, esta nova ocupação do Haiti, servindo-se do anteparo da ONU para impor ao Haiti um exército de ocupação de 9.000 soldados. Pois então, agora que houve os furacões, eles teriam se tornado subitamente salvadores e benfeitores do povo haitiano?
Se nos dirigimos às organizações operárias e populares, e a todos os outros povos pedindo ajuda e solidariedade com o povo haitiano, nós, em contraposição, não pedimos nada aos que ocupam o nosso país com armas na mão, mesmo que hoje tenham sacos de arroz sobre os ombros.
O Haiti não está em guerra com ninguém. Que os 40 governos que mantêm estes regimentos de ocupação, que custam anualmente 540 milhões de dólares (cifra publicada no site da MINUSTAH), retirem imediatamente seus regimentos, e, se quiserem verdadeiramente ajudar o povo haitiano, utilizem esses 540 milhões de dólares para substituir seus soldados por bombeiros, médicos, pessoal de segurança civil, técnicos, operários para reconstruir as estradas e toda a infra-estrutura destruída etc.
Nós, abaixo-assinados, organizações sindicais, políticas e populares haitianas, dirigimos a todos vocês, irmãs e irmãos de todos os países, um vibrante e urgente apelo de solidariedade, pela ajuda ao povo haitiano, para que ele possa conseguir reconstruir o país na paz, sem ocupação militar de qualquer espécie que seja, com total soberania.
Nosso país, que a seu tempo, soube dar asilo e ajuda a Simon Bolívar, bem como a outros líderes da luta contra a colonização espanhola, vai comemorar em 17 de outubro próximo a festa nacional Jean Jacques Dessalines, um dos pais fundadores da nação haitiana. Nessa mesma semana, em 15 de outubro, os governantes de seus países e de todos os que possuem tropas na MINUSTAH devem decidir se renovam pelo tempo mínimo de um ano o mandato e a presença desses soldados no solo do Haiti.
Nós, organizações haitianas, nos reuniremos em 10 de outubro, durante uma manifestação diante da Presidência da República, em Porto Príncipe, para exigir:
- A anulação da dívida! Nem mais um tostão para os bancos internacionais. Todos os recursos de estado devem ir para o plano de reconstrução do país.
- Paz, democracia, respeito à soberania do povo haitiano: retirada imediata das forças estrangeiras da MINUSTAH, o presidente Préval não deve pedir a renovação do mandato.
A vocês, irmãos e irmãs do Brasil, do Equador, do Chile, da Bolívia, do Uruguai e de outros países do continente, a todas as organizações operárias, populares e democráticas desses países, do Caribe e do continente americano, nós dirigimos um vibrante e urgente apelo:
Questionem seus governos, peçam aos presidentes da República de seus países, à Lula, Bachelet, Correa, Kirchner, Morales e Vasquez, para que não renovem o mandato das tropas de seus países e retirem imediatamente seus soldados do solo do Haiti, e que os substituam por pessoal civil na área da saúde, das comunicações, da construção etc. para ajudar o povo haitiano a reconstruir o país.
Façamos assim, juntos, do próximo 10 de outubro uma jornada de mobilização pela ajuda e a solidariedade internacional dos trabalhadores, pelo direito dos povos do continente à autodeterminaçã o, pelo direito de viver em paz em nações soberanas.
Porto Príncipe, 24 de setembro de 2008
Organizações haitianas abaixo-assinadas:
CATH Central Autônoma dos Trabalhadores Haitianos, Louis Fignolé St. Cyr, secretário-geral
POS Partido Operário Socialista Haitiano, Marc Antoine Poinson, secretário de Organização dos Departamentos
FESTREDH Federação Sindical de Eletricidade do Haiti, Dukens Raphaél, porta-voz
KORTA Fednel Monchery, coordenador- geral
GIEL Grupo de Iniciativa dos Professores do Ensino Secundário, Léonel Pierre, secretário-geral
ADFEMTRAH Seção das Mulheres da Cath, Julie Génélus, secretária-geral
GRAHLIB Grande União por um Haiti Livre e Democrático, Ludy Lapointe, coordenador- geral
FOS Federação dos Operários Sindicalizados, Raymond Dalvius, diretor de Relações Públicas
GRAMA Grupo de Reflexão e Ação por uma Melhor Alternativa, Joseph Varnel, coordenador- geral
KONOSPOL Coletivo Organização Sócio-político, Lukem Royel
CONAFTAV Coalizão Nacional das Mulheres Trabalhadores, D. Benoit
KJKFF Konbit Jen K. Fou Fey, John Laurenvil
Zafé Fanm Darline Sensuel
KOSEFANM Elisabeth Augustin
KOPDA Konbit Peyzan Pou Developman, Ansajo Réginal Legeme
FANM GRAMA Caroline Gaspard
AJAM/A Associação dos Jovens Progressistas de Marmelade, Fénélus Sinel, tesoureiro-geral
CONAREM Coordenação Nacional Cidadã pela Reivindicação das Massas, Jean Lesly Préval, secretário de organização
ANAMMAPME Jean Oscalhome Florvil
MPPG Jean Phalière Rezil
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