06 fevereiro 2008

Estudantes são retirados de acampamento na Universidade Federal Fluminense

Com intervenção da Polícia Federal, estudantes são retirados de acampamento
na Universidade Federal Fluminense. Justiça Federal coordena ação de
reintegração de posse solicitada por reitoria. Ação autoritária da
administração da universidade pública de Niterói pega estudantes de surpresa
na véspera do Carnaval.

*Por Rafael Duarte*

Por essa, o movimento estudantil da Universidade Federal Fluminense não
esperava. Com o país todo em clima de Carnaval, nessa manhã de sexta-feira,
dia 1º de fevereiro, a Justiça Federal de Niterói-RJ decidiu encaminhar o
mandato de reintegração de posse do campus do Gragoatá, atendendo à
solicitação da administração da UFF. Com isso, os estudantes acampados no
gramado do Gragoatá foram obrigados a sair. Detalhe: só puderam levar o que
conseguissem carregar. Geladeira, equipamentos de som, mesas, armários e
inúmeros pertences pessoais foram apreendidos.

*Histórico* - O acampamento estudantil no campus do Gragoatá já existe desde
2006 quando moradores da Casa do Estudante Fluminense se recusaram a aceitar
a imposição de um estatuto interno que atentava contra uma série de direitos
humanos. O movimento, denominada Maria Júlia Braga, é composto em sua
essência por estudantes da UFF que necessitam de moradia para manter seus
estudos. Os acampados, junto com o Diretório Central dos Estudantes (DCE), a
Associação dos Docentes (ADUFF) e o Sindicato dos Trabalhadores da
Universidade Federal Fluminense (SINTUFF), estão há anos na luta pela
construção da moradia universitária que garanta a permanência dos estudantes
de baixo poder aquisitivo até a conclusão de seus cursos. Ampliação dos
recursos públicos para educação e políticas sérias de assistência estudantil
são algumas das principais reivindicações do movimento universitário.

*Desprezo* - A administração da UFF não encaminhou nenhuma alternativa de
alojamento para os estudantes retirados do Gragoatá. A Lígila, assessora
direta do reitor da UFF, Roberto Salles, disse não saber de operação alguma.
Ainda informou que ninguém na chefia de gabinete da reitoria sabia de nada.
Ao ser questionada pela equipe da comissão de Direitos Humanos da Câmara
Municipal de Niterói, presidida pelo vereador Renatinho (PSOL), a assessora
de imprensa da universidade Rosângela se comprometeu em apurar os fatos e
retornar com uma posição da reitoria. Até o fim da noite, o retorno da
universidade não aconteceu.

*Apreensão às escondidas* - A falta de clareza na operação é marcante. Os
estudantes não ficaram com nenhum papel, mandato algum que explicasse a
situação. Os pertences dos acampados, recolhidos pela polícia, foram
listados, mas essa lista não foi entregue aos estudantes. Esse processo de
enumeração sequer pôde ser acompanhado pelos dicentes. Curioso, foi que os
veicúlos que levaram os objetos eram da própria universidade. Até o
fechamento dessa matéria a equipe da Agência Petroleira de Notícias não
conseguiu descobriu para onde foi levado o material apreendido.

O depósito público nega a entrada de qualquer leva nesse sentido. A Polícia
Federal de Niterói disse que acompanhou a ação apenas para proteger o
oficial de justiça, caso houvesse resistência. Na Justiça Federal, o
responsável pela operação não foi encontrado. A assessoria da unidade,
questionada sobre o destino dos pertences, informou que nesses casos os
donos dos objetos podem escolher para onde querem que seja levado o
material. Mas os estudantes garantem que não tiveram essa prerrogativa, o
que leva a crer que o representante da UFF que acompanhou a ação, Leonardo
Vargas, tenha feito essa indicação. Vargas está com o celular desligado e
não foi encontrado em sua sala na sede da reitoria.

"Estamos com a expectativa de que irá demorar para reavermos nossos objetos.
A experiência que temos, quando houve a expulsão da Casa do Estudante, é que
isso não vai se resolver em menos de um mês." - conta pessimista Guilherme
Lopes, apoiador do Maria Júlia Braga. O estudante de história explica como
fica a situação dos acampados: "Por enquanto, vamos nos alojar no DCE,
estamos lá desde manhã. À tarde, fizemos uma reunião apenas para encaminhar
as questões práticas pelo período de Carnaval. Até porque, devido a esse
período de férias e festa, estamos com poucas pessoas acampadas. Quando a
polícia chegou lá só tinha quatro de nós."

A Aduff esteve desde o início dessa sexta-feira junto com os estudantes. A
jornalista do sindicato foi, inclusive, ameaçada pelo segurança da UFF por
estar fotografando o episódio. O Diretório Central dos Estudantes, que
também se fez presente, abriu as portas da entidade para abrigar os
acampados.

*Contra-ataque* - O coordenador de Movimentos Sociais da DCE, Afonso
Madureira, já marcou uma reunião com Aduff e Sintuff para o dia 12 de
fevereiro, às 18h, na sede da Associação dos Docentes da universidade: "A
idéia é reunir todo o movimento de luta e democrático da UFF para discutir o
que fazer com relação às medidas autoritárias da reitoria. Não podemos mais
aceitar tanta intervenção policial feriando os debates coletivos e a
autonomia dentro da UFF. Precisamos nos organizar para dar um basta nisso!"

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