30 dezembro 2008
Faixa de Gaza: a irracional lógica da Guerra
Por Guillermo Sullings
Porta voz do Humanismo na Argentina
Os recentes bombardeios por parte de Israel à faixa de Gaza estão comovendo ao mundo inteiro. Em primeiro lugar pela quantidade de vítimas, e em segundo lugar pelas conseqüências que pode ter uma escalada bélica em um mundo que se encontra à beira de um desastre nuclear.
A pretensão, por parte de Israel, de justificar este sangrento bombardeio, como parte da luta contra os ataques de Hamas, não é mais do que um novo intento de validar um massacre através de hipócritas e irracionais argumentos com os quais os prepotentes belicistas estão levando ao mundo para uma hecatombe.
Deve-se lembrar mais uma vez que o crescimento do terrorismo nos últimos tempos tem sido em boa medida uma conseqüência e uma resposta, violenta e irracional também, no marco da escalada de atropelos por parte das potências bélicas para com as nações mais débeis. Neste contexto, pretender diferenciar a violência dos exércitos formais, que oprimem e massacram povos inteiros, da violência terrorista, que semeia morte e espanto, como se a primeira fosse legal e admissível e a segunda ilegal e reprovável, faz parte da grande hipocrisia da política internacional.
No minúsculo território da Faixa de Gaza vivem, ou tentam sobreviver, mais de um milhão e meio de palestinos, que procuram trabalhar como podem no próprio Israel, subsistindo graças à “ajuda humanitária” da ONU. O recente bloqueio por parte de Israel, com o pretexto de considerá-lo território hostil por albergar também o território de Hamas, mostrou até que ponto se tenta manter esta população sob uma permanente chantagem de prêmios e castigos. Nesta situação, não é para se surpreender então do apoio popular que os violentos podem ter dentro da população.
É bom lembrar também que a Faixa de Gaza é um território que pertencia ao Egito e que Israel ocupou 40 anos atrás, até que recentemente ele passou a fazer parte do território controlado pela Autoridade Nacional Palestina. Esta maneira de proceder, invadindo territórios, seja para se instalar definitivamente, ou para depois negociar lentas retiradas a troco de manter o controle e o poder de algum jeito, é a mesma que os EUA e seus aliados usaram para disciplinar o mundo e manejar seus recursos naturais.
Não resulta estranho então, que perante tão prepotente acionar surjam a cada vez reações mais monstruosas, nas quais os poderosos por sua vez tentam justificar o aumento de sua prepotência alimentando o círculo vicioso da violência que pode nos levar rapidamente para uma catástrofe nuclear. Haja vista que a maior parte dos atores dos conflitos vigentes no mundo são potências nucleares. E não se deve esquecer que a crise econômica internacional atual torna os prepotentes ainda mais perigosos, os quais podem buscar na guerra uma ‘saída política’ para a situação que lhes foi colocada nas mãos.
É claro que todos os conflitos do mundo poderiam ser resolvidos pacificamente desde que avançáramos para uma concepção de uma Nação Humana Universal. Uma Nação na qual todos os países se ocupem de garantir que cada povo possa se desenvolver e tenha um território onde trabalhar em paz, sem pressões nem chantagens. Deve-se compreender também que a intolerância cultural e religiosa são formas da violência desde as que costumam se justificar, com irracional lógica, as escaladas de violência física. Muito deverá ser feito para que os povos tomem consciência de que em um mundo de intolerância e de injustiça, ninguém poderá viver em paz. Mas , nesta forma de consciência, deve-se começar pelo mais urgente: descomprimir as situações de tensão extrema e desarticular os fatores de pressão e chantagem.
Para isso, é fundamental e prioritário que, no mundo todo, as forças invasoras se retirem dos territórios ocupados e que agora mesmo seja iniciado o desarme nuclear.
E, neste caso em particular, Israel não só deveria deixar de atacar imediatamente o povo de Gaza, como também deveria rever sua política intransigente e opressiva para com o povo palestino. E, o povo palestino, por sua vez, deveria tomar consciência de que é necessário buscar uma saída através de alianças de paz com outros povos do mundo e deixar de acreditar na obstinação suicida dos violentos.
Guillermo Sullings
Porta-voz do Humanismo na Argentina
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A possibilidade de um desastre nuclear
Possivelmente muitas pessoas conhecem, ou pelo menos imaginam, que nenhum país do mundo, mesmo que não fosse o alvo direto de um ataque nuclear, ficaria a salvo das terríveis conseqüências do mesmo.
Mas o que seguramente a maioria das pessoas não conhece nem se atreve a imaginar, é que a possibilidade de concretização de tais ataques, está neste momento mais próxima que nunca. Se caíssem em conta disto, se tomassem consciência da gravidade da situação, este tema passaria a ser uma preocupação central.
Estamos dizendo que chegou a hora que os povos saiam às ruas para mudar o rumo dos eventos, que até hoje, sob o descontrole de governos irresponsáveis, nos estão levando aceleradamente para o desastre nuclear.
Seguramente alguns pensam equivocadamente, que o genocídio de Hiroshima e Nagasaki foi uma fatalidade irrepetível do passado, ou que o perigo de uma conflagração nuclear concluiu quando acabou a Guerra Fria. No entanto, durante todo este tempo, os arsenais nucleares não somente foram crescendo em quantidade e potencial destrutivo, mas se foram sofisticando e proliferaram, ao ponto tal de poder chegar a serem utilizados por uma variedade muito ampla de dementes. Hoje, tanto os governantes dos denominados “países sérios” (principais fabricantes de armas), como os daqueles países catalogados como “pouco sérios”, como também algumas organizações terroristas, podem chegar a utilizar estas armas em qualquer momento. E não somente podem, mas já manifestaram, explícita ou implicitamente, suas intenções de fazê-lo.
O desdobramento de um escudo estelar na Europa, por parte de USA e seus aliados, não tem outra finalidade que preparar-se para um contra-ataque (o que significa que se está pensado em atacar a alguém). Certa vez se pensou, que com a queda do Muro de Berlim, se entraria em uma “Nova Ordem Mundial”, onde as hipóteses de conflitos bélicos diminuiriam sensivelmente. Uma vez derrotado o “vilão comunista”, a paz e a prosperidade dominariam no paraíso do “fim da história”. Em troca disto, fomos desembocando em uma “Nova Desordem Mundial”, onde os choques culturais, os fanatismos religiosos, os separatismos, a xenofobia, e a desordem provocada pelo capitalismo globalizado, multiplicaram o caos e a violência.
A prepotência de USA e seus aliados, para impor um modelo cultural e econômico hegemônico, não somente gerou os desastres próprios da aplicação de tal modelo, mas, além disso, gerou reações violentas de toda índole. O crescente apoio popular a líderes belicistas, e a multiplicação do terrorismo, são algumas das reações que se vem produzindo em muitos povos que se sentem pisoteados pelo denominado “Primeiro Mundo”. Hoje a humilhação cultural, a falta de futuro e a submissão econômica, estão produzindo um crescente exército de seres que sentem que já não têm nada que perder, e que estão totalmente dispostos a imolar-se em um atentado terrorista contra qualquer objetivo, que para eles represente a esse “primeiro mundo” de uns poucos privilegiados.
Frente a estas reações, longe de retroceder na sua prepotência, os poderes centrais as utilizam como pretexto para atribuir-se o direito a intervir militarmente qualquer país, com o argumento da “luta contra o terrorismo” e a “defesa da democracia”, ao mesmo tempo que se vão instalando em territórios ricos em recursos energéticos. Sem dúvida que esta política não faz outra coisa que potenciar novas reações, em um círculo vicioso de violência que nos levará ao desastre.
Mas a este hoje, por si só terrível, pode seguir-lhe um amanhã muito pior. Porque o atual colapso financeiro internacional, que não é mais que o estrondo de um sistema econômico que caiu faz tempo, potencializará ainda mais a violência e a desordem, pondo à humanidade à beira da catástrofe nuclear.
A formidável crise econômica atual, valha dizê-lo, foi total responsabilidade dos “países sérios”, e não foi prevista por seus “sisudos analistas e formadores de opinião”. Isto nos faz suspeitar, que um futuro desastre nuclear, dificilmente será previsto ou controlado a tempo, por semelhantes irresponsáveis e ineficientes personagens, que se atribuem o direito de conduzir o mundo.
Desta vez a humanidade não pode permitir-se um novo “desenlace natural violento”, como nas duas grandes guerras mundiais do século XX, como conseqüência da interação das desordenadas forças do poder econômico, e da violência dos exércitos imperiais, ou do terrorismo. A humanidade não pode permitir-se um novo desenlace bélico. Em primeiro lugar, porque de uma vez por todas é necessário colocar-se de pé e sair da pré-história humana. E em segundo lugar, porque a proliferação nuclear combinada com a desordem e violência crescentes, devesse fazer-nos lembrar aquela frase de Einstein: “Não sei com que armas se lutará na terceira guerra mundial, mas sim sei com quais o farão na quarta guerra mundial: paus e pedras”.
O que fazer
É muito o que é preciso transformar para superar a violência em todos seus aspectos: a violência física, a violência racial, a violência psicológica, a violência religiosa, a violência econômica, e tantos tipos de violência que existem na sociedade.
Mas para iniciar um definitivo processo de mudanças, e para chegar a tempo com as soluções, é prioridade número um desativar a bomba-relógio que hoje está a ponto de explodir.
E para desativar essa bomba-relógio, é imprescindível começar já mesmo com o desarmamento nuclear de todos os países que possuem esse tipo de armas, e é condição necessária a imediata retirada das tropas invasoras dos países ocupados.
Nada será possível se não se começa por isso.
A força dissuasiva das armas nucleares, que durante a Guerra Fria servia para manter um delicado equilíbrio entre as duas superpotências, hoje serve para impor determinadas regras de jogo internacionais. Mas na medida em que os centros de poder sintam que perdem o controle e a hegemonia internacional no político e o econômico, acharão necessário fazer gala de seu poder destrutivo, para que o mundo volte a estar sob seu domínio. E a conseqüência necessária de tudo isso será um maior recrudescimento e globalização do terrorismo
Por isso é necessário que as potências nucleares sejam as primeiras a dar o exemplo e retroceder na carreira da violência e o armamentismo. E isso não é outra coisa, em primeiro lugar, que desmantelar os arsenais nucleares e retirar-se já mesmo dos territórios ocupados.
Isso é o que deveriam fazer os governos. Mas já sabemos que neste sistema de democracias formais e mentirosas, rara vez os governos fazem o que os povos necessitam. Exceto que os povos se ponham de pé para exigi-lo, e para mudar aos governantes de ser necessário. Portanto, quando falamos do que se deve fazer, melhor deveríamos dizer que é o que os povos devem exigir aos governos que estes façam.
Sem dúvida que os povos dos países que possuem armas nucleares tem um grande desafio. Começando pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (supostos fiadores da paz), e que são USA, China, Grã-Bretanha, a Rússia e a França; acompanhados pelo resto do clube nuclear: Paquistão, a Índia, Israel e a Coréia do Norte.
Mas, para que os governos desses países desmantelem seus arsenais nucleares, e para que nenhum outro país os construa, será necessário fazer ouvir o clamor de todos os povos do mundo. Porque todos os habitantes do planeta somos reféns da ameaça nuclear, e reclamamos nosso direito a viver em paz e liberdade, e não se vive em liberdade quando se vive ameaçado.
E sem dúvida que a partir do desarmamento nuclear e da retirada das tropas dos territórios ocupados, deveria iniciar-se um desarmamento geral progressivo de todo tipo de armamentos. É preciso re-converter a indústria bélica, a indústria da morte, em uma indústria para a vida. Basta dizer que com 10% do orçamento mundial destinado às armas, se poderia resolver a fome em todo o planeta.
E, sem dúvida, quando a ameaça da guerra e a destruição se afastarem, haverá que falar também de ir resolvendo de modo não-violento, os problemas de injustiça, de pobreza, de saúde, de educação, do meio ambiente, e tantos outros, desde a óptica de um Humanismo Universalista.
Mas sabemos que a construção de uma Nação Humana Universal, começa pela paz e a não violência ativa.
A Marcha Mundial pela Paz e a Não-Violência
Pela primeira vez se realizará uma marcha através de aproximados 100 países, partindo no dia 2 de outubro de 2009 (Dia internacional da Não-Violência) desde a Nova Zelândia, culminando no dia 2 de janeiro de 2010 na Argentina (Punta de Vacas-Mendoza) . Durante três meses serão realizadas em quase todo o mundo, marchas por cidades, festivais, foros, conferências, e todo tipo de eventos que sirvam para conscientizar os povos sobre a imperiosa necessidade do desarmamento nuclear, da retirada de tropas de ocupação, e de trabalhar para terminar com todo tipo de violência no mundo. Mas, embora esta Marcha Mundial tenha um prazo formal de duração, podemos dizer que as atividades relacionadas com seus objetivos já começaram, e continuarão multiplicadas além do 2010, como um fenômeno que não se deterá até alcançar o desarmamento e a paz no mundo.
Esta Marcha Mundial se realizará para denunciar a perigosa situação mundial que nos está levando para a guerra nuclear, para que milhões de pessoas nas ruas façam com que se escute o que desde o poder se quer silenciar. Para que a humanidade tome consciência do perigo nuclear, e a partir dali questione as políticas armamentistas e violentas de alguns governos, e condene o silêncio cúmplice de outros.
Assim como os violentos globalizaram sua irracionalidade e hoje todo o mundo está ameaçado por eles, assim também a resposta dos povos deve ser mundial, deve abranger a todos os países, deve envolver a todos os povos, porque a vida é de todos.
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20 dezembro 2008
MOÇÃO CONTRA AÇÃO VIOLENTA DA POLÍCIA DURANTE MANIFESTAÇÃO DO PETRÓLEO NO RIO
MOÇÃO CONTRA AÇÃO VIOLENTA DA POLÍCIA DURANTE MANIFESTAÇÃO DO PETRÓLEO NO RIO As entidades abaixo assinadas vêm repudiar a violenta e desastrosa ação da polícia militar e da guarda municipal do Rio de Janeiro, que deixou cerca de 50 feridos e três pessoas detidas durante uma manifestação pacífica, por volta de meio dia, da quinta-feira dia 18/12, na Avenida Rio Branco, em protesto contra a 10ª Rodada de Licitação do Petróleo. Depois de receberem uma ordem de despejo na noite do dia 17 para desocupar o Edifício Sede da Petrobrás, as 500 pessoas presentes na manifestação retornaram na manhã do dia 17, para a Candelária, que fica perto da Agência Nacional do Petróleo (ANP), responsável pela realização dos leilões das áreas petrolíferas. Em seguida, a manifestação prosseguiria pela Avenida Rio Branco, em direção à Cinelândia. Desde a ordem de despejo, vinda da presidência da Petrobrás os manifestantes sentiram a animosidade das forças de repressão, mas não esperavam ação tão agressiva, contra uma simples manifestação de protesto. A ação absurda da polícia remonta à sombria época da ditadura militar, impedindo a liberdade de manifestação e o democrático direito de defesa da soberania nacional e dos recursos naturais brasileiros. Por esse motivo repudiamos a ação violenta da polícia, exigimos imediato fim da criminalização dos movimentos sociais e a urgente busca dos 4 (quatro) militantes desaparecidos até o momento. Sindipetro-RJ Sindipetro-Litoral Paulista MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados) FIST (Federação Internacionalista dos Sem Teto) FOE (Frente de Oposição de Esquerda da União Nacional dos Estudantes) Conlutas Intersindical CUT Federação Única dos Petroleiros (FUP) Frente Nacional dos Petroleiros (FNP) Centro dos Estudantes de Santos e Região - CES Movimentos de estudantes secundaristas do Rio de Janeiro Para assinar essa moção, mande um e-mail para APN: agencia@apn. org.br Por ordem da ANP, militantes são espancados e presos durante manifestação no Rio contra leilão do petróleo |
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16 dezembro 2008
Entrevista sobre a Marcha mundial pela paz e não-violência
Entrevista com Ricardo Jullian
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